Publicação Contínua
Qualis Capes Quadriênio 2017-2020 - B1 em medicina I, II e III, saúde coletiva
Versão on-line ISSN: 1806-9804
Versão impressa ISSN: 1519-3829

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Fatores associados à cárie dentária em crianças de seis a 36 meses, em Salvador-BA

Maria Lizzia Moura Ferreira dos Santos1; Maria Cristina Teixeira Cangussu2; David José Casimiro de Andrade3

DOI: 10.1590/1806-9304202300000196 e20190196

RESUMO

OBJETIVOS: analisar os fatores associados à cárie dentária na primeira infância.
MÉTODOS: trata-se de um estudo transversal das condições de saúde oral de 535 crianças entre seis e 36 meses, em Unidades de Saúde da Família, em Salvador-BA. Foram coletadas informações sobre as condições socioeconômicas, saúde da mãe e da criança, hábitos alimentares e de higiene oral e exame oral.
RESULTADOS: a prevalência de cárie dentária foi de 13,64% (IC95%=11,44-15,84) e os fatores associados foram: idade da criança, número de cômodos da casa, benefício "Bolsa Família", consultas de pré-natal, peso ao nascer e aleitamento materno exclusivo.
CONCLUSÕES: as condições socioeconômicas influenciam fortemente na saúde oral, bem como o pré-natal e o aleitamento materno. Para prevenir cárie na infância, é pertinente investir em ações intersetoriais e programas sistematizados, incluindo a equipe médica e de enfermagem, pois estas ações são imprescindíveis para o cuidado integral à saúde da criança e qualidade de vida

Palavras-chave: Saúde pública, Cárie dentária, Saúde oral, Odontopediatria

ABSTRACT

OBJECTIVES: to analyze the factors associatedwith dental cavity in early childhood.
METHODS: this is a cross-sectional study on oral health condition of 535 children aged between six and 36 months old, at Family Health Units, in Salvador-BA. Information was collected on socioeconomic conditions, mother and child's health, eating and oral hygiene habits, and oral examination.
RESULTS: the prevalence of dental cavity was 13.64% (CI95%=11.44 -15.84) and the factors associated were: child's age, number of rooms in the house, "Bolsa Família" (Family Welfare) benefit, prenatal consultations, birth weight and exclusive breastfeeding.
CONCLUSIONS: socioeconomic conditions strongly influenced oral health, as well as prenatal care and breastfeeding. To prevent childhood cavities, it is pertinent to invest in intersectoral actions and systematized programs, including the medical and nursing staff, as these actions are essential for integral care for the child's health and quality of life

Keywords: Public health, Dental cavities, Oral health, Pediatric dentistry

Introdução

A cárie dentária é uma doença mundial e a sua prevalência e gravidade são consideradas altas na faixa etária até aos 36 meses e possuem vários fatores associados, conforme o estudo de Majorana et. al. 1 A prevalência da cárie dentária para a faixa etária de 18 a 36 meses no Brasil, a partir do índice de dentes cariados, perdidos e obturados (ceo-d) foi de quase 27% das crianças examinadas, segundo o estudo epidemiológico SB Brasil (Saúde Bucal Brasil) 2003. 2 No último levantamento epidemiológico, em 2010, aos cinco anos de idade uma criança brasileira possui, em média, 2,43 dentes com experiência de cárie, com predomínio do componente cariado, que é responsável por mais de 80% do índice. 3

Em 2019, nos resultados de Chen et. al. ,4 foi encontrada experiência de cárie em crianças de cinco anos, distribuída de forma desigual, porém, está diminuindo ao longo do tempo e seus fatores associados incluem comportamentos relacionados à prática de higiene oral, consumo de açúcar, conhecimento relacionado à saúde oral dos pais e condições sociodemográficas. A cárie dentária nesta faixa etária, pode afetar significativamente a qualidade de vida da criança e a educação em saúde oral mostra potencialidade na prevenção. 5 O estudo de Cabral6 com 640 crianças de até 36 meses, evidenciou uma elevada incidência de cárie (22,6%), observando uma polarização da doença, ou seja, apresentando crianças com condições muito precárias de saúde oral e crianças com boas condições.

Muitos estudos afirmam que as condições socioeconômicas das famílias de crianças da primeira infância possuem forte associação com a prevalência de cárie. 7-9 A promoção da saúde e a prevenção de agravos estão inseridas no contexto da saúde brasileira através dos princípios e diretrizes que regem o Sistema Único de Saúde (SUS), atuando no campo da Estratégia de Saúde da Família (ESF), por meio da Política Nacional da Atenção Básica. 3

Considerando que a cárie é a doença oral mais prevalente no Brasil e que pode ser prevenida com custos efetivamente baixos, torna-se imprescindível a ampliação e sistematização do atendimento odontológico preventivo voltado para crianças. Ressalta-se que o vínculo entre o profissional e a família, das ações educativas, do acompanhamento longitudinal à saúde oral e do tratamento vão contribuir para o desenvolvimento de uma geração livre de cárie.

Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores associados de cárie dentária em crianças de seis a 36 meses, na ESF, em Salvador-BA.


Métodos

Trata-se de um estudo transversal envolvendo crianças de idade compreendida entre os seis e os 36 meses, com uma abordagem quantitativa, desenvolvido em 2019, no município de Salvador-BA, que possui 2.900.319 habitantes e está localizado na região Nordeste (IBGE, 2021). O município de Salvador possui 12 Distritos Sanitários (DS), o estudo foi realizado em 11 Unidades de Saúde da Família (USF) uma por DS, de acordo com a disponibilidade e interesse do cirurgião-dentista em participar da pesquisa.

A amostra do estudo foi estabelecida por conveniência, através do cálculo amostral feito de acordo com os dados do E-sus, sistema de informação de saúde utilizado pelo município, considerando a população total, 15% de prevalência de cárie dentária, poder de 80%, nível de significância de 5% e um OR=1,5 para associação principal. Acrescentou-se um erro de desenho de 1,5 por se tratar de uma amostra por conglomerado. O número obtido foi de 634 crianças. Os critérios de inclusão adotados foram crianças de seis meses a 36 meses inclusive, residentes das áreas de abrangência das USF selecionadas, do município de Salvador-BA, cujos responsáveis aceitaram participar da pesquisa.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário já validado de Cabral,6 que contém indicadores epidemiológicos para o acompanhamento das condições gerais de saúde da criança, seus hábitos de vida e alimentares e a condição da sua saúde oral. Para iniciar a coleta de dados a equipe de examinadores foi devidamente selecionada e calibrada, mensurando o índice de Kappa, para identificar a concordância intra e inter-examinadores. Esta calibração foi realizada por consenso, a partir de duas oficinas, com a discussão de toda a metodologia da pesquisa, dos critérios do exame, do instrumento de coleta de dados, seus indicadores, e um momento de discussão em campo com três a quatro casos, para conquistar o consenso e a padronização nos exames orais.

A aplicação do questionário, foi realizada através de uma entrevista em local reservado, podendo ser no domicílioou em consultório da ESF, respeitando a privacidade dos participantes do estudo. Foi realizado um estudo piloto com dez crianças, sendo possível identificar falhas e fazer os ajustes necessários quanto á clareza das perguntas dos formulários e adequá-lo à realidade local.

O exame oral foi realizado utilizando luz natural ou lanterna, espátula de madeira, gaze, luvas, gorro, máscara, avental e óculos, obedecendo às normas de biossegurança. No exame oral foi considerado o número de superfícies cariadas, mancha branca, dentes obturados, dentes com exodontia indicada, dentes ausentes e dentes excluídos, representados em um odontograma. Foi utilizado o Sistema Internacional de Deteção e Avaliação de Cáries (ICDAS), que se destina ao uso em pesquisas epidemiológicas e para detectar lesões de estágio cavitadas e não cavitadas, com confiabilidade aceitável. Foi usado um código para cada face do dente e depois calculado o índice de ceo-d e ceo-s das crianças examinadas no estudo. Também foram avaliados os tecidos moles, tecidos duros, distúrbios de erupção, alterações de desenvolvimento, anomalias e traumatismos.Ao identificar alteração oral das crianças, os profissionais providenciaram o atendimento assistencial na sua própria unidade de saúde.

Todos os dados foram digitados em um banco de dados no programa Minitab e foi realizada a análise descritiva das variáveis de interesse, com observação das frequências absolutas e relativas e medidas de tendência central e dispersão. A seguir realizou-se a análise estratificada para uma avaliação de potenciais associações. Foram observadas as prevalências do efeito de acordo com as covariáveis, analisando-se as diferenças entre categorias através do teste do qui-quadrado de Pearson. Em conjunto com elementos do modelo teórico e da literatura, este procedimento estatístico contribuiu para a seleção das covariáveis utilizadas na modelagem (p<0,20).

Na análise multivariada, o método utilizado foi a regressão não condicional. Para a inferência estatística foi utilizado o Intervalo de Confiança a 95%. Os procedimentos de modelagem permitiram a construção do modelo final, para estimar a medida de associação. A Regressão de Poisson foi utilizada como uma estratégia analítica para a obtenção das Razões de Prevalência. A bondade do ajuste do modelo foi verificada mediante o teste qui-quadrado de Hosmer e Lemeshow.

O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia (UFBA), através do nº 2.857.836.


Resultados

A população de estudo consistiu de 535 crianças, de um total de 634, visto que 99 ainda estavam iniciando o processo eruptivo. Do total das crianças (n=535), 50,28% eram do sexo feminino e, quanto à etnia, houve uma predominância negra e parda (83,93%) (Tabela 1).

 



A maior parte da amostra foi de crianças moradoras da área de abrangência das USF. A análise descritiva em relação ao perfil socioeconômico demonstrou que a escolaridade da mãe até o primeiro grau completo foi de 44,92% e, dos responsáveis entrevistados, 75,88% tinham a situação conjugal casado, união estável ou juntado. Quanto à moradia, 42,05% residem em domicílio com até 4 cômodos e 27,1% residem com mais de 5 pessoas no domicílio. Quanto à renda familiar, a maior parte das famílias não recebiamBolsa Família, 83% (Tabela 1).

Na saúde da mãe e saúde geral da criança demonstrou-se que a maioria das mães fez mais de 8 consultas de pré-natal (59,06%), a maior parte das crianças teve parto normal (56,26%), peso adequado (>2500g) ao nascer (90,46%) e aleitamento materno exclusivo (82,80%). Quanto aos hábitos alimentares das crianças da pesquisa, 91,08% já tiveram acesso ao açúcar, 93,19% realizavam alimentação noturna, 73,08% dormiam em cama compartilhada, 55,51% realizavam limpeza da cavidade oral e 84,33% não possuíam escova compartilhada (Tabela 1).

Na análise descritiva da saúde oral das crianças quanto à alteração de mucosa, 95,9% não apresentaram, 39,12% apresentaram candidíase, 31,06% apresentaram alteração de freio labial, apenas 4,83%, apresentaram freio lingual curto e 24,34% apresentaram má oclusão (Figura 1).

 



Quanto à prevalência de cárie dentária foi encontrada 13,64% e o índice ceos= 0,21 (DP= 1,25), valor mínimo =0 e valor máximo-16, com predominância do componente cariado (100%) (dados não tabelados).

Na análise bivariada entre ocorrência de cárie dentária (ICDAS) foram encontradas como variáveis associadas estatisticamente significantes, o aleitamento materno exclusivo (seis meses) (p=0,042) e o benefício do "Bolsa Família" (p=0,047), fatores protetores para prevenção de cárie.

Considerando a associação bivariada entre ocorrência de cárie dentária (ICDAS) e variáveis associadas foram selecionadas para o modelo multivariado - idade da criança, número de cômodos no domicílio, benefício "Bolsa Família", número de consultas de pré-natal, peso ao nascer e aleitamento materno exclusivo (Tabela 1).

Na análise exploratória multivariada de Poisson, as variáveis associadas à presença de cárie dentária, foram - a maior idade da criança (RP=1,90; IC95%=1,04-3,45), menor número de cômodos da casa (RP=1,78; IC95%=1,01-3,17); famílias das crianças que recebem o benefício bolsa família tiveram menor prevalência da doença (RP=0,54; IC95%=0,30-0,97) assim como o número adequado de consultas do pré-natal (RP= 0,50; IC95%=0,26-0,94)e o aleitamento materno exclusivo (RP=2,88; IC95%=1,07-7,70), tiveram associações estatisticamente significantes (Tabela 2).

 



Discussão

Das 535 crianças deste estudo, houve uma ligeira predominância do sexo feminino, de predominância negra e parda, sendo amaior parte da amostra constituída por crianças moradoras na área de abrangência das USF. Quanto ao perfil socioeconômico, mais de metade das mães estudaram até ao primeiro grau completo, a maior parte estava casada, com união estável ou juntado. Quanto à moradia, quase a metade das crianças residem em domicílio com até 4 cômodos e a maior parte das famílias não recebiam o Bolsa Família. A maioria das crianças já tiveram acesso ao açúcar, realizavam alimentação noturna e mais da metade não realizava limpeza da cavidade oral. A prevalência de cárie dentária foi de 13,64% e os fatores associados à presença de cárie dentária foram a maior idade da criança, o menor número de cômodos da casa, as famílias das crianças que recebem o benefício Bolsa Família, número adequado de consultas do pré-natal e o aleitamento materno exclusivo.

A prevalência de cárie em crianças da primeira infância vem sendo estudada em muitos países, com diversas situações epidemiológicas, culturais e socioeconômicas, verificando-se uma grande variação. 5,10 Neste estudo, a prevalência foi de 13,64%, e existe associação estatisticamente significante do aumento da prevalência de cárie com a idade da criança, dada à natureza cumulativa da doença, concordando com os resultados de estudos semelhantes. 5,9,11

É unânime entre os estudos mais recentes que a idade está fortemente associada ao aumento da prevalência de cárie. 7,9,10-13 Dadas as variações das prevalências de cárie em diversos países, como também em diversos estados brasileiros, torna-se pertinente priorizar estratégias de prevenção e promoção da saúde oral na primeira infância na Atenção Básica, através da ESF.

A odontologia na primeira infância vem produzindo potencialidades nas ações de prevenção e promoção da saúde oral. Muitos estudos corroboram com os achados dessa pesquisa, afirmando a importância das ações preventivas de saúde oral na primeira infância. 4,11,14-16

A maioria dos estudos evidencia que a cárie precoce na infância também está fortemente associada a fatores sociais, como renda familiar, escolaridade, número de filhos e até mesmo a necessidade de tratamento odontológico da mãe, confirmando os achados deste estudo, que identificou fatores sociais associados à cárie precoce. 12,17 Alkhtib et al. 18 complementam que o baixo nível socioeconômico produz uma falta de conscientização das famílias com a prevenção e tratamento de doenças bucais na primeira infância, existindo uma negligência generalizada. Baggio et. al. 19 identificaram a cárie precoce da infância como um marcador de desigualdades sociais, afirmando que o nível socioeconômico está associado ao aumento da prevalência de cárie.

De acordo com Stephen et al. ,9 a escolaridade dos pais também está relacionada com a cárie precoce na infância, conforme estudos de Chaffee et al. 20 as precárias condições socioeconômicas das mães refletem-se no acesso à informação, quanto menor a escolaridade das mães, maiores as chances de cárie, pois estas mães não recebem orientações suficientes de higiene oral e alimentação para os cuidados com a saúde oral da criança. Neste estudo, 89,01% das crianças cujas mães tinham escolaridade maior que o ensino médio estavam livres de cárie, porém não foi estatisticamente significante, concordando com o estudo de Fan et al. ,21 que também não encontraram associação entre nível educacional dos pais com aumento da cárie em crianças na primeira infância.

Neste estudo, foi encontrada associação estatisticamente significante com a cárie, o menor número de cômodos da casa onde a criança reside e como fator de proteção, o recebimento do benefício Bolsa Família. Stephen et al. 9 e Moimaz et. al. 17 reforçam este achado afirmando que a assistência social melhora as condições econômicas da família, influenciando melhores cuidados com a saúde oral. Em contrapartida, o estudo de Lee et. al. 22 não encontraram resultados semelhantes.

As condições de saúde oral de crianças na primeira infância estão relacionadas aos hábitos alimentares, principalmente pela ingestão de sacarose, que aumenta a probabilidade de cárie em crianças de vulnerabilidade social. 23 Foi identificado nesse estudo que 91,08% já tiveram acesso ao açúcar, porém não foi encontrada associação estatisticamente significante, discordando dos resultados de vários estudos,8,20,24,25 talvez por causa da idade das crianças. Ghazal et. al. 10 afirmam que o consumo de alimentos açucarados mais de uma vez ao dia, aumenta em 9,2% a chance da criança ter cárie, Chaffee et. al. 20 também encontraramdados relevantes, em que 95% das crianças que possuem alimentação cariogênica, possui cárie.

Neste estudo, o aleitamento materno teve associação estatisticamente significante como fator protetor contra a cárie,confirmando os achados de Majorana et. al. 1 e Cidro et. al. 26 que identificaramassociação do aleitamento materno com a diminuição da cárie precoce nesta faixa etária, e que as gestantes e mães precisam ser orientadas para manter o aleitamento materno e promover a saúde da criança. Entretanto, alguns estudos identificaram o contrário, como o de Kato et. al. 27 em um estudo de base populacional com mais de 43 mil crianças de seis meses, observaram que o aleitamento exclusivo e o misto nesta faixa etária contribuem para o aumento da prevalência de cárie.

Nakayama e Mori25 mostraram que há evidências de associação entre a amamentação noturna com a prevalência de cárie precoce. Neste estudo, 93,19% das crianças realizavam alimentação noturna, porém não houve associação estatisticamente significante. Estas contradições são importantes para analisar que a problemática da cárie é complexa e envolveo contexto socioeconômico e cultural em que a criança está inserida.

Quanto aos hábitos de higiene oral, os resultados deste estudo mostraram que 44,48% das crianças da pesquisa não realizavam a limpeza da cavidade oral e este indicador não apresentou associação estatisticamente significante com o aumento da cárie. Gomes et. al. 28 em estudo com 165 crianças, também não encontraram associação significante entre cárie e os hábitos de higiene, confirmando os achados desse estudo, porém contrariando os resultados de outro estudo. 24 Essa realidade encontrada neste estudo pode se relacionar ao uso de dentifrícios fluoretados, como também fatores genéticos, dentre outros, visto que se trata de uma doença multifatorial. É importante incluir nas ações educativas de promoção da saúde e prevenção de agravos, temas relacionados com a higiene oral, sendo os programas educativos e preventivos imprescindíveis para a inclusão dos hábitos de higiene oral na primeira infância. 13,18,19,21

Kuriakose et. al. 13 evidenciaram que76,1% das crianças com hábitos de escovação duas vezes ao dia, estavam livres de cárie e que estes hábitos são modelados no âmbito familiar.Nunes et al. 23 identificaram a escovação dentária como fator protetor num grupo de baixo risco de cárie, enquanto que neste estudo não foi encontrada associação estatisticamente significante. Aljarallah et. al. 8 e Gopal et. al. 12 acrescentaram sobre a importância do uso do flúor nos dentifrícios como fator protetor.

Muitos estudos afirmam que a melhoria dos hábitos de higiene oral bem como a diminuição da prevalência de cárie nesta faixa etária são potencializados através do acesso ao dentista, quanto maior o acompanhamento da saúde oral da criança com o dentista menor a possibilidade de experiencia de cárie. 12,13,18,21,23

Considerando que a cárie é uma doença crônica multifatorial, alguns limites e desafios foram identificados neste estudo, como o tipo de estudo transversal, que apenas observa a população em um dado momento, as informações sobre a saúde oral da criança e a gestação baseadas na memória dos familiares. A amostra foi inferior ao anteriormente calculado, limitada às localidades com USF, o que pode terrestringido os resultados das análises. Sugere-se um estudo longitudinal para investigar de forma mais aprofundada os fatores associados à cárie,bem como estudos de intervenção no âmbito local.Estudos com análises qualitativas e com amostras mais abrangentes também complementariam os resultados deste estudo.

Concordando com os resultados deste estudo, Abanto et al. 16 afirmam que os primeiros mil dias de uma criança são como uma "janela de oportunidades", momento especial para a adoção de hábitos e escolhas de vida que vão influenciar na saúde oral na primeira infância. Quanto mais cedo se iniciarem os cuidados com a saúde oral da criança, melhores os seus indicadores de saúde. Moimaz et al. 29 afirmam que as ações de saúde materno infantil precisam ser monitoradas equalificadas, garantindo o acesso ao pré-natal e puericultura, como também o pré-natal odontológico. As equipes da ESF têm a responsabilidade de desenvolver ações educativas com foco na conscientização das famílias sobre a prevenção de agravos e promoção da saúde.

A realidade da saúde oral de crianças da primeira infância é preocupante, pois há uma polarização da doença, de forma que as crianças em situação de vulnerabilidade social são as mais acometidas e, quando acontece, é na forma mais grave da doença. No âmbito da Atenção Básica através da ESF, é possível avançar com a implantação de programas de atenção de saúde oral precoce, tendo início ainda no pré-natal, de modo a fornecer a maior quantidade de orientações e esclarecimentos quanto aos cuidados com a saúde oralna primeira infância.

Os resultados deste estudo mostraram fatores associados como a idade da criança, o número de cômodos no domicílio, famílias que recebem o benefício Bolsa Família, o número de consultas do pré-natal o aleitamento materno exclusivo. Estes achados reforçam a necessidade de maiores investimentos nas ações educativas intersetoriais no âmbito da saúde pública, com o envolvimento de toda a equipe de saúde da família, colaborando com a melhoria das condições de saúde oral na primeira infância.


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Recebido em 22 de Maio de 2019
Versão final apresentada em 17 de Dezembro de 2022
Aprovado em 31 de Dezembro de 2022

Editor Associado: Luciana Dubeux

Contribuição dos autores: Santos MLMF e Cangussu MCT: Conceituação, curadoria de dados, análise formal, aquisição de financiamento, investigação, metodologia, administração de projeto, recursos, software, supervisão, validação, visualização, escrita - rascunho original, revisão e edição. Andrade DJC: conceituação, visualização, escrita - rascunho original, revisão e edição.

Os autores aprovaram a versão final do artigo e declaram não haver conflito de interesse.

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