Prezado editor,
A oportuna publicação do excelente artigo de Silva
et al.
1 sobre a influência da participação do pai no processo de aleitamento materno traz à tona a necessidade de reflexão sobre um tema muito relevante que é a importância e o papel do pai durante principalmente os primeiros seis meses de vida da criança, período em que todos os esforços devem ser direcionados para que a criança seja alimentada exclusivamente com leite materno. As relações entre o pai e o aleitamento materno têm sido estudadas de modo esporádico e, infelizmente, os resultados desses estudos não têm recebido a importância que merecem no sentido de contribuir para o sucesso da prática do aleitamento materno.
Embora os indiscutíveis benefícios do leite materno e da prática do aleitamento para a criança, mãe, família e sociedade sejam conhecidos há muito tempo
2,3 e a adoção de várias estratégias como a Política Nacional de Aleitamento Materno, Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Banco de Leite Humano e Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos, ainda observa-se que tanto a sua prevalência quanto a duração encontram-se aquém dos parâmetros considerados aquedados e desejados, evidenciando que todos os esforços devam ser associados e direcionados para que tal objetivo deva ser atingido.
Vários estudos têm destacado o importante papel que o pai pode desempenhar junto à lactante de maneiras diversas e em variadas situações.
4,5 Seja desde atitudes simples como assumir tarefas domésticas diárias junto com ou no lugar da companheira,reduzindo seu esforço físico e emocional, propiciando mais tempo para ficar com a criança e fortalecendo o elo mãe-criança-pai, ou manifestando demonstrações de compreensão, acolhimento, carinho e afeto com ações e palavras motivadoras
6 que podem contribuir para dar mais segurança à mãe. Tais atitudes têm se mostrado de grande importância tanto para o início quanto para a manutenção do aleitamento materno por períodos mais prolongados.
Com essas atitudes os pais também são beneficiados. Tem sido observado melhoria na qualidade de vida e um elevado grau de satisfação dos pais que se percebem exercendo seu papel familiar na plenitude, acompanhando o desenvolvimento e o crescimento dos filhos com boas condições de saúde, contribuindo também para a estruturação emocional da criança.
7,8Para tanto, é importante destacar que se faz necessário envolver os pais nessa missão. É preciso que os serviços de atenção à saúde, principalmente em nível primário, estejam preparados e possam oferecer orientações e oportunidades para que o pai esteja capacitado e seguro para participar desses momentos junto à mãe e à criança, mediante atividades como reuniões em grupo, atendimento individualizado e/ou familiar e campanhas educativas, principalmente para os pais mais jovens e com o nascimento do primeiro filho.
9,10Nesse sentido, é preciso destacar também que tais serviços podem ser incluídos e oferecidos em programas tradicionais de atenção básica à saúde como Pré-natal, Puericultura Antenatal e Puericultura, nos quais a participação do pai é sempre desejável e dever ser estimulada e facilitada, inclusive com ações legais que possam amparar os pais trabalhadores. Os benefícios desses programas certamente serão verificados e revertidos para que se possa atingir melhores condições de saúde e de vida de toda a família.
Referências1. Silva LKC, Viana MACBM, Oliveira SF, Lima RLFC, Vianna RPT. Aleitamento materno exclusivo: a presença de companheiro impacta positivamente na sua duração? estudo de coorte. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2025; 25: e20240135.
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8. Bráulio TIC, Damasceno SS, Cruz RSBLC, Figueiredo MFER, Silva JMFL, Silva VM,
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9. Oliveira JA, Cardoso RLS, Silva ROM, Cardoso VNS. A participação do pai no aleitamento materno: uma rede de apoio. Res Soc Dev. 2022; 11: 1-8.
10. Koksal I, Acikgoz A, Cakirli M. The effect of a father's support on breastfeeding: a systematic review. Breast Med. 2022; 17: 1-9.
Contribuição dos autores: Todos os autores participaram na construção da carta ao editor e aprovaram a versão final. Os autores declaram não haver conflito de interesse.
Recebido em 13 de Março de 2025
Versão final apresentada em 14 de Março de 2025
Aprovado em 15 de Março de 2025
Editor Associado: Lygia Vanderlei