RESUMO
OBJETIVOS: analisar os fatores associados à ocorrência de sífilis em gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde.
MÉTODOS: estudo de caso-controle conduzido com mulheres que realizaram o pré-natal na Atenção Primária à Saúde. Foram selecionados três controles para cada caso (48 casos e 144 controles) a partir do resultado de testes sorológicos para sífilis. Realizou-se análise bivariada e, em seguida, regressão logística condicional ordenada por pares a partir do menor valor de p.
RESULTADOS: nos grupos controle e caso houve predomínio de, respectivamente: mulheres de 20 a 34 anos (52,1%; 21,4%), solteiras (48,4%; 21,4%), pretas ou pardas (46,9%; 16,1%), com nove ou mais anos de estudo (47,4%; 12,5%). Os fatores associados foram o histórico de consumo de substâncias ilícitas (OR = 3,42 IC95%= 1,18 – 9,90) e o diagnóstico anterior de Infecção Sexualmente Transmissível (OR = 6,63 IC95%= 2,18 – 20,16).
CONCLUSÃO: o consumo de substâncias ilícitas e a presença de Infecção Sexualmente Transmissível anterior foram fatores associados à sífilis na gestação. Os achados reforçam a importância do planejamento e reorganização de ações, durante o pré-natal, direcionadas à identificação e ao manejo de fatores subjetivos, para que os serviços de saúde possam adotar medidas eficazes no acompanhamento e prevenção de novos casos de sífilis em gestantes.
Palavras-chave:
Infecções sexualmente transmissíveis, Gestantes, Saúde materno-infantil.
ABSTRACT
OBJECTIVES: to analyze the factors associated with the occurrence of syphilis in pregnant women attending in Primary Health Care.
METHODS: case-control study conducted with women who underwent prenatal care in Primary Health Care. Three controls were selected for each case (48 cases and 144 controls) based on the results of serological tests for syphilis. Bivariate analysis was carried out, followed by conditional logistic regression ordered by pairs from the lowest p value.
RESULTS: in the control and case groups there was a predominance of, respectively: women aged 20 to 34 (52.1%; 21.4%), single (48.4%; 21.4%), black or brown (46.9%; 16.1%), with nine or more years of schooling (47.4%; 12.5%). The associated factors were a history of illicit drug use (OR = 3.42; 95%CI= 1.18 - 9.90) and a previous diagnosis of Sexually Transmitted Infection (OR = 6.63; 95%CI=2.18 - 20.16).
CONCLUSION: the consumption of illicit substances and the presence of previous Sexually Transmitted Infection were factors associated with syphilis during pregnancy. The findings reinforce the importance of planning and reorganizing actions during prenatal care aimed at identifying and managing subjective factors, so that health services can adopt effective measures to monitor and prevent new cases of syphilis in pregnant women.
Keywords:
Sexually transmitted diseases, Pregnant women, Maternal and child health.
IntroduçãoA sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que afeta aproximadamente um milhão de gestantes em todo o mundo.
1,2 No Brasil, em 2023, foram notificados 86.111 novos casos de sífilis na gestação, sendo 46,2% no Estado de São Paulo.
3 Apesar dos avanços, a infecção continua representando um desafio para a saúde pública devido ao risco de transmissão vertical e desfechos adversos (abortos, natimortalidade, prematuridade e sífilis congênita).
2,4Dentre os fatores de risco para a sífilis gestacional presentes na literatura encontram-se a vulnerabilidade social, baixa escolaridade, ausência do uso de preservativo, múltiplos parceiros, consumo de álcool ou substâncias ilícitas, histórico de IST e número reduzido de consultas de pré-natal.
5-8 Tais achados, oriundos de estudos realizados no ambiente hospitalar, destacam a importância de investigações na atenção primária que possam explorar aspectos sociais, comportamentais e a assistência dos serviços de saúde.
Visando garantir uma rede de cuidados materno-infantil e reduzir as taxas de mortalidade, o Ministério da Saúde (MS) instituiu a Política Nacional de Humanização do Parto e Nascimento e a Rede Cegonha (RC).
9 A RC preconiza o acompanhamento pré-natal, a realização de rotinas com resultados em tempo oportuno, prevenção de IST/HIV/Aids, a disponibilização de testes rápidos para a gestante e seu parceiro
4 e a descentralização desses testes para a Atenção Primária à Saúde (APS). Desta forma, durante o pré-natal, todas as gestantes devem ser triadas para sífilis no primeiro e último trimestre de gestação
4 e as soropositivas devem ser tratadas e acompanhadas mensalmente até a alta-cura.
O acompanhamento pré-natal na APS constitui uma oportunidade para a promoção de uma gestação saudável e identificação precoce de patologias que comprometem a saúde materno-infantil.
10 A APS oferece um espaço estratégico baseado no acolhimento, na atuação interdisciplinar e na integralidade do cuidado.
9Contudo, persistem desafios no diagnóstico precoce da sífilis durante o pré-natal, decorrentes de falhas na qualidade da atenção, no cumprimento das diretrizes assistenciais e na realização de testes e tratamentos adequados.
6,11 Tais fragilidades elevam o risco de diagnóstico tardio, com possíveis desfechos adversos.
6Considerando o potencial da APS na prevenção e controle da sífilis gestacional, estudos que investiguem fatores associados à sua ocorrência nesse nível de atenção, especialmente por meio de delineamentos como o caso-controle, são essenciais. Nesse contexto, o presente estudo objetivou analisar os fatores associados à ocorrência de sífilis em gestantes atendidas em unidades de saúde da APS.
MétodosTrata-se de um estudo do tipo caso-controle de base populacional, realizado no período de outubro de 2020 a dezembro de 2022 com mulheres que fizeram o acompanhamento pré-natal em Unidades de Saúde da APS.
O estudo foi conduzido em dois municípios do Estado de São Paulo. O primeiro (município A) é equipado com 71 unidades de saúde da APS, sendo 51 Unidades de Saúde da Família (USF) e 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) tradicionais. O segundo (município B) dispõe de 36 unidades de saúde da APS, sendo quatro USF e 32 UBS. Destaca-se que a diferença no percentual de participantes entre os dois municípios foi consequência da facilidade de acesso às unidades de saúde no município A em relação ao B.
Para o cálculo amostral, utilizou-se programa estatístico gratuito EPI Info versão 7.2.5.0, e esta estimativa foi realizada com base em estudo de caso-controle realizado em Recife,
6considerando o nível de significância, poder do teste, proporção de caso-controle e proporção de controles expostos. Assim, adotou-se um nível de significância de 5%, com poder de teste de 80%,
Odds Ratio (OR) estimado de 4,16 e proporção de controles de 7,1%, considerando aspectos comportamentais, como o consumo de drogas. Foram selecionados três controles para cada caso de sífilis durante a gestação (3:1) e a amostra final estimada foi de 168 mulheres (42 casos e 126 controles). Esperando a possibilidade de uma perda amostral de 20%, estimou-se que seriam necessárias 200 participantes, sendo 50 casos e 150 controles.
Foram selecionadas mulheres, com faixa etária de 12 a 49 anos (idade fértil), que residiam em um dos municípios do estudo, se apresentavam em qualquer fase do período gravídico, que estavam realizando o acompanhamento pré-natal em unidades da APS e mulheres que possuíam bebês de até seis meses acompanhados nas consultas de puericultura nestas unidades. Foram excluídas mulheres que estavam na unidade para a primeira consulta para acompanhamento pré-natal, que ainda não possuíam os resultados dos testes sorológicos e que não realizavam o acompanhamento pré-natal em serviços da APS.
O grupo caso foi composto por mulheres que apresentaram resultado reagente, sob qualquer titulação, nos testes sorológicos para sífilis (
Fluorescent Treponemal Antibody Absorption - FTA-ABS – ou
Venereal Disease Research Laboratory - VDRL), realizados durante o acompanhamento pré-natal do período gestacional atual. O grupo controle foi composto por mulheres que tiveram resultado não reagente nos testes sorológicos para sífilis (FTA-ABS ou VDRL), realizados durante o acompanhamento pré-natal e que não tenham apresentado diagnóstico de sífilis durante o período gestacional atual. A seleção das participantes do grupo controle foi realizada de forma aleatória, na mesma unidade de saúde, após a identificação do caso.
O pareamento dos grupos foi realizado com base no tipo de unidade de atendimento (USF/UBS), município de atendimento (A ou B) e situação das participantes (gestante ou mulheres com bebê nascido há, no máximo, seis meses da data da coleta). A abordagem de mulheres soropositivas na gestação atual, com bebês já nascidos ocorreu devido à interrupção da coleta de dados durante a pandemia de Covid-19, sendo o pareamento entre casos e controles também realizados pela idade do bebê.
Para a coleta de dados, inicialmente foi realizado um levantamento junto à vigilância epidemiológica municipal das unidades de saúde com casos de sífilis em gestante, sem acesso ao nome dos casos notificados. As unidades com casos positivos foram incluídas no estudo e contatadas periodicamente pelos pesquisadores para abordagem presencial das possíveis participantes.
Gestantes e/ou mulheres com bebês de até seis meses presentes na unidade de saúde no dia da visita – para consultas, vacinação, grupo de gestantes – eram abordadas individualmente. A abordagem foi realizada exclusivamente nas unidades de saúde, conforme metodologia de estudo prévio,
12 visando preservar o sigilo do diagnóstico e evitar desconfortos associados às visitas domiciliares.
As entrevistas foram conduzidas com base em um questionário estruturado, abrangendo dados socioeconômicos, demográficos, comportamento de saúde, obstétricos e informações sobre o diagnóstico de sífilis na gestação atual. Foram abordadas 209 mulheres, sendo o tamanho amostral final composto por 192 participantes (Figura 1).
O desfecho do estudo foi a presença de sífilis durante a gestação atual. As variáveis independentes foram agrupadas em três blocos: (i) socioeconômicas e demográficas (idade, estado civil, cor da pele autodeclarada, escolaridade, tipo de moradia, trabalho remunerado, participação em programas de transferência de renda e renda individual e religião); (ii) comportamentos de saúde (consumo de tabaco, álcool e substâncias ilícitas, idade da primeira relação sexual, número de parceiros sexuais no último ano, uso de métodos contraceptivos e de preservativo) e; (iii) obstétricas (número de gestações, histórico de aborto e presença de IST prévia).
Os dados obtidos foram analisados no
software Stata versão 14.0. Realizou-se análise descritiva com frequência, média e desvio padrão, seguida de análises bivariadas (Qui-quadrado e Teste Exato de Fisher). Variáveis com
p<0,20 foram incluídas no modelo de regressão logística condicional, ordenadas por pares a partir do menor valor de
p. As variáveis aborto e método contraceptivo foram mantidas no modelo por critérios de ajuste. Foram testadas as colinearidades entre as variáveis.
Para a validação, realizou-se regressão logística não condicional, com inclusão de variáveis de forma semelhante à regressão logística condicional. As associações foram expressas por
Odds ratio (OR), com Intervalo de Confiança de 95% (IC95%) e nível de significância de 5%.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Protocolo CAAE: 28783320.3.0000.5418).
ResultadosParticiparam deste estudo 192 gestantes e/ou mulheres com bebês de até seis meses, de 16 unidades de saúde da APS, sendo 87,5% (n=168) do município A e 12,5% (n=24) do município B.
Em ambos os grupos houve predomínio de mulheres de 20 a 34 anos, solteiras, autodeclaradas pretas ou pardas, com nove ou mais anos de estudo. Quanto à renda individual, houve um predomínio de mulheres sem renda no grupo controle e com mais de um salário-mínimo entre as participantes do grupo caso. Quanto aos fatores associados ao diagnóstico de sífilis na gestação atual, este esteve associado ao estado civil, consumo de tabaco, álcool, drogas ilícitas, idade da primeira relação sexual, uso de método contraceptivo e presença de IST anterior (Tabela 1).
Entre as entrevistadas, observou-se que a maior parte relatou não fazer uso de preservativo durante as relações sexuais, tanto do grupo caso, quanto do controle. Dentre os principais motivos descritos pelas participantes estiveram: a mulher ou parceiro não gostarem de usar, não ter o preservativo no momento da relação sexual, possuir relacionamento ou parceiro fixo e uso de uso de métodos contraceptivos.
Na análise de regressão logística, o modelo não condicional realizado apresentou resultados consistentes com os registrados no modelo condicional, sendo, portanto, compatíveis com a hipótese de validade do modelo. Desta forma, o modelo ajustado mostrou que a razão de chances para a presença de sífilis na gestação foi 3,42 vezes maior entre as participantes que consumiram substâncias ilícitas (IC95%= 1,18 – 9,90) e 6,63 vezes para as gestantes que já foram diagnosticadas anteriormente com alguma IST (IC95%= 2,18 – 20,16) (Tabela 2).
DiscussãoOs achados desta pesquisa apontam que, dentre as participantes que realizaram o pré-natal nas unidades investigadas, a ocorrência de sífilis na gestação foi associada à IST prévia e histórico de consumo de drogas ilícitas.
A escolaridade e a renda são determinantes de um pré-natal adequado, afetando o acesso aos serviços e a compreensão das orientações de cuidado à saúde
7,13. Apesar disso, observa-se crescente incidência de sífilis entre mulheres com maior escolaridade.
14 Assim, é fundamental que aspectos socioeconômicos e demográficos sejam considerados nas consultas de pré-natal, a fim de promover inclusão, acesso a informações compreensíveis e a participação ativa da gestante, de seu parceiro e rede de apoio na prevenção, diagnóstico e tratamento de ISTs, como a sífilis.
Embora essas variáveis sejam reconhecidas como associadas à sífilis na gestação,
6-8-15 este estudo não encontrou tal relação, possivelmente devido ao aumento da escolaridade, maior acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou homogeneidade da amostra. Nesse contexto, é necessária uma abordagem que vá além dos protocolos tradicionais, como exames e número de consultas. O pré-natal deve ser um momento de troca e construção de conhecimento, e, nesse sentido, investir em atividades educativas, especialmente por meio da translação do conhecimento,
17 é uma estratégia prioritária.
No que concerne às variáveis de comportamento em saúde, evidenciou-se que estas foram associadas à ocorrência de sífilis em gestantes, entretanto, no modelo final, apenas o consumo de substâncias ilícitas e a presença de IST anterior foram estatisticamente significativas. Esses achados alinhados com outros estudos
6,8,18 reforçam a importância de ponderar essas variáveis como possíveis preditoras e ponto de atenção na assistência pré-natal.
Quanto ao consumo de álcool, este pode aumentar em três vezes as chances de soropositividade para sífilis.
19,20 No presente estudo, houve associação apenas na análise bivariada, perdendo significância no modelo ajustado, em consonância com estudo anterior.
6 Contudo, seus efeitos indiretos permanecem relevantes, dado seu uso concomitante com substâncias ilícitas e seu impacto negativo na percepção de risco e tomada de decisão, o que pode favorecer a exposição à infecção.
21O consumo de substâncias ilícitas foi identificado como associado à sífilis, indo ao encontro de estudos conduzidos no Brasil
6 e Estados Unidos,
18 que apontaram maior risco para gestantes que iniciaram o consumo antes dos 18 anos e fator de risco para ocorrência de sífilis congênita. A transmissão de ISTs nesse contexto pode ocorrer diretamente, por meio do compartilhamento de seringas e agulhas ou indiretamente, por comportamentos sexuais de risco,
22 como a não utilização do preservativo e a presença de múltiplos parceiros.
O desconhecimento dos efeitos do consumo de substâncias ilícitas sobre a própria saúde e da criança podem levar as gestantes a não aderirem ao pré-natal.
21,23 Além disso, fatores como fácil acesso à essas substâncias, contexto familiar vulnerável, medo do estigma e despreparo dos profissionais de saúde dificultam a identificação precoce do consumo e de práticas de risco, comprometendo a prevenção de danos ao binômio mãe-bebê.
23,24O histórico de ISTs prévias foi significativamente associado à sífilis na gestação, reforçando achados de outros estudos brasileiros
6,25 e destacando o risco de reinfecção. Isto posto, o acompanhamento pré-natal deve considerar esse histórico, especialmente em casos de sífilis com baixas titulações, para identificar recidivas, prevenir novos casos e, logo, reduzir os casos de sífilis congênita.
25 Além disso, ações educativas na APS são primordiais para promover autonomia, diálogo e estratégias efetivas de prevenção entre gestantes e seus parceiros.
26 A participação do parceiro no pré-natal é fundamental para o diagnóstico e tratamento de infecções como a sífilis, prevenindo reinfecções. Desde 2016, o MS instituiu o pré-natal do parceiro visando promover exames, testes rápidos, vacinação e orientações sobre o papel do homem nesse período.
10,27 Isso posto, é fundamental que a participação do parceiro seja estimulada
26 uma vez que a realização dos exames de rotina possibilita o diagnóstico e tratamento das infecções, quando presentes. No entanto, no que diz respeito à soropositividade de ISTs, a literatura ainda é limitada quanto à forma como ocorre a comunicação do diagnóstico ao parceiro e sua efetividade, o que pode impactar negativamente na adesão e tratamento.
28Nesse contexto, destaca-se o papel da APS no enfrentamento da sífilis, especialmente no cuidado pré-natal. Entre 2012 a 2018, o governo federal ampliou a cobertura e incentivou a qualificação dos serviços, para melhorar o diagnóstico, manejo e tratamento da infecção.
27,29 Pesquisa sobre o manejo da sífilis na APS evidenciou avanços na infraestrutura e processos de trabalho, bem como revelou disparidades regionais e escassez de equipes estruturadas.
29 A insuficiência de recursos humanos, testes rápidos e da penicilina compromete a efetividade do cuidado integral, incluindo a adesão do parceiro ao tratamento. A qualificação da APS é fundamental com respeito à construção de vínculos entre as gestantes e seus parceiros favorecendo a identificação de riscos, rastreamento, diagnóstico, prevenção e continuidade do cuidado, que são elementos essenciais para o controle da sífilis no SUS.
27Como limitação, destaca-se o possível viés de informação por desejabilidade social, sobretudo no que diz respeito ao comportamento sexual, devido à tendência de respostas socialmente aceitáveis em temas sensíveis.
29,30 Para mitigar esse viés, as entrevistas foram realizadas por um único pesquisador, em ambiente reservado e com garantia de privacidade; outra limitação foi a restrição da amostra a usuárias de unidades de APS, o que reduz a generalização dos resultados. Essa limitação foi minimizada pelo delineamento caso-controle e pareamento da amostra quanto à renda e escolaridade. Ressalta-se ainda que, por se tratar de estudo retrospectivo, não se considerou a possibilidade de soroconversão para sífilis no grupo controle até o fim da gestação, recomendando-se estudos prospectivos futuros para aprofundar a compreensão sobre a infecção.
Mesmo diante destas possíveis limitações, ressalta-se a importância deste estudo para a identificação dos fatores associados ao diagnóstico de sífilis na gestação, bem como a possibilidade de intervenções ainda na APS, de forma a promover o controle da infecção neste público e, também, prevenir novos casos.
Os resultados evidenciaram que o consumo de substâncias ilícitas e o histórico de IST prévia foram os principais fatores associados à sífilis na gestação entre mulheres acompanhadas na APS. Dado o papel central da APS como porta de entrada no sistema de saúde, o estudo alerta para a importância do acolhimento qualificado e da identificação precoce desses fatores pelos profissionais, possibilitando intervenções oportunas e prevenção de desfechos adversos decorrentes da soropositividade.
Reforça-se, ainda, a necessidade de ações educativas e de fortalecimento da autonomia das gestantes, além de novos estudos que abordem o acompanhamento integral, do diagnóstico à cura.
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Contribuição dos autores: Lino CM: delineamento do manuscrito, interpretação e análise dos dados, redação do manuscrito. Maeda ST e Batista MJ: planejamento, orientação e delineamento do manuscrito, interpretação e análise dos dados, revisão do manuscrito. Antunes JLF e Sousa MLR: interpretação dos dados, revisão do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão final do artigo e declaram não haver conflito de interesse.
Disponibilidade de Dados: Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
Recebido em 7 de Setembro de 2023
Versão final apresentada em 5 de Junho de 2025
Aprovado em 2 de Julho de 2025
Editor Associado: Aurélio Costa